Lyon, França – Em um discurso de forte impacto na sede da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), nesta segunda-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um diagnóstico incisivo sobre a expansão e a complexidade do crime organizado global. Lula afirmou que essas organizações criminosas se comportam como “verdadeiras empresas multinacionais”, infiltrando-se não apenas na política e no judiciário, mas também em outras esferas da sociedade, como o futebol e a cultura.
A Abrangência da Infiltração Criminosa
O presidente utilizou uma metáfora contundente para ilustrar a dimensão do problema: “O crime organizado não se enfrenta em uma simples quadrilha, são verdadeiras empresas multinacionais envolvidas na política, no judiciário, no futebol e em toda parte da cultura. É como um polvo de muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo que é errado no mundo”. Ele ressaltou que a criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, impulsionada pelas novas tecnologias, o que exige ações multilaterais urgentes e coordenadas.
Contexto da Declaração: Fortalecimento da Cooperação Internacional
A declaração de Lula foi feita durante a cerimônia de assinatura de uma declaração de intenções entre o Brasil e a Interpol, em Lyon, na França. O evento marcou um passo significativo no compromisso do Brasil com a cooperação internacional no combate ao crime transnacional. Durante a ocasião, Lula fez questão de cumprimentar o secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, o primeiro brasileiro eleito para comandar a organização, destacando o reconhecimento do protagonismo da Polícia Federal brasileira no cenário internacional.

Os Pilares da Nova Declaração de Intenções
A declaração de intenções assinada estabelece prioridades claras para a atuação conjunta entre Brasil e Interpol, visando um combate mais eficaz às redes criminosas globais. Os principais pontos anunciados pelo presidente incluem:
- Reforço da Cooperação Internacional: Aumentar e qualificar a colaboração entre países para enfrentar o crime organizado de forma integrada.
- Desarticulação de Organizações Criminosas Transnacionais: Atacar e desmantelar as redes criminosas que operam além das fronteiras, incluindo suas bases de apoio logístico e financeiro.
- Modernização Tecnológica e Institucional: Apoiar a atualização e o aprimoramento dos recursos tecnológicos e estruturais dos órgãos de segurança pública no Brasil e em toda a América Latina, para que possam combater o crime de forma mais eficiente.
- Proteção de Grupos Vulneráveis e Direitos Humanos: Promover a salvaguarda de populações em situação de vulnerabilidade e garantir o respeito aos direitos humanos na atuação policial.
Medidas Brasileiras e o Olhar para o Futuro
Lula enfatizou que “nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional” e que a cooperação policial será uma prioridade na política externa brasileira, assim como outros desafios que demandam ação coletiva, como a mudança climática e a governança do espaço digital.
Entre as medidas já tomadas pelo governo brasileiro para fortalecer o combate ao crime, o presidente mencionou a criação da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos, focada em fraudes bancárias, crimes de alta tecnologia e, especialmente, no abuso sexual infantil na internet. Além disso, a rede de adidâncias da Polícia Federal no exterior foi ampliada para 34 postos nos cinco continentes, fortalecendo a presença brasileira em ações de segurança global.
O compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 também foi citado como parte do esforço de segurança pública, com ações de repressão a ilícitos ambientais, incluindo o programa “Ouro Vivo”, uma parceria com a França para combater a extração ilegal de ouro e mercúrio.
A Redação.