Brasília, DF – O Supremo Tribunal Federal (STF) foi palco de um dos momentos mais aguardados do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado, com o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. A sessão, acompanhada de perto pelo ex-presidente e outros seis réus, revelou detalhes cruciais e expôs a postura de Bolsonaro diante das revelações de seu antigo auxiliar.
Durante a primeira parte do interrogatório, realizada na sala da Primeira Turma do STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) permaneceu presente, assim como os demais réus, sob o olhar atento do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Apesar da gravidade das acusações e do peso das declarações de Cid, a reação de Bolsonaro foi marcada por uma aparente tranquilidade.
Fontes próximas ao processo descrevem um ex-presidente que se manteve focado, frequentemente fazendo anotações em um papel e, por vezes, repousando o rosto sobre as mãos. Em outros momentos, Bolsonaro foi visto mexendo no celular e cochichando com seu advogado, Celso Vilardi. Uma postura mais rígida, de braços cruzados, também foi observada em alguns instantes, indicando uma alternância entre concentração e talvez alguma apreensão contida.
As Revelações de Mauro Cid e o Impacto no Inquérito
O depoimento de Mauro Cid, que segue sem prazo determinado para conclusão, é considerado peça-chave na investigação. Como delator, Cid é o primeiro a ser ouvido neste grupo de réus, o que permite que suas informações subsidiem as perguntas a serem feitas aos demais, incluindo Bolsonaro, que será o sexto a depor.
Entre as principais revelações de Cid, destaca-se a confirmação de que a chamada “minuta do golpe” – um documento que previa ações drásticas para subverter o resultado eleitoral – foi apresentada a Jair Bolsonaro. Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro não apenas leu o documento, como também o teria modificado. Uma das alterações mencionadas por Cid seria a restrição da prisão de ministros do STF, mantendo-se apenas a previsão de detenção para o ministro Alexandre de Moraes.
Outro ponto de forte impacto trazido por Mauro Cid foi a alegação de que o Almirante Garnier, ex-comandante da Marinha, teria “colocado as tropas à disposição do presidente” para a execução do plano golpista. Essas declarações adicionam camadas de complexidade à investigação e reforçam a seriedade das acusações.

O Próximo Capítulo: A Defesa de Bolsonaro
A defesa de Jair Bolsonaro, por sua vez, tenta contestar a versão apresentada por Cid e busca desqualificar as provas. Vale ressaltar que, antes do início dos interrogatórios, a defesa do ex-presidente havia tentado, sem sucesso, suspender a ação penal alegando não ter tido acesso integral às provas. O ministro Alexandre de Moraes, no entanto, negou o pedido, assegurando a continuidade do processo.
A expectativa agora recai sobre os próximos depoimentos e, em particular, sobre a oitiva de Jair Bolsonaro. Sua estratégia de defesa, as justificativas para sua conduta e as refutações às alegações de Cid serão elementos cruciais para o desenrolar do inquérito. A sociedade brasileira segue atenta aos desdobramentos deste caso, que promete ser um marco na história jurídica e política do país.
A Redação.